Dólar abre em alta após recuo de Trump em tarifas | Conexão AM

Dólar abre em alta após recuo de Trump em tarifas

  • 10-04-2025 14:24

O dólar abriu com leve alta nesta quinta-feira (10), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma pausa de 90 dias na imposição de tarifas comerciais a dezenas de países. Às 9h04, o dólar à vista subia 0,19%, sendo negociado a R$ 5,8577. Na véspera, a moeda americana havia despencado 2,52%, encerrando a sessão a R$ 5,844. O Ibovespa, por sua vez, disparou 3,11%, alcançando 127.795 pontos.

A trégua nas tarifas anunciada por Trump impactou positivamente os mercados globais. Em Wall Street, os principais índices fecharam em forte alta: o S&P 500 saltou 9,51%, registrando seu melhor desempenho diário desde 2008; o Nasdaq Composite avançou 12,16% e o Dow Jones subiu 7,87%.

A suspensão temporária vale para tarifas recíprocas anteriormente impostas a países específicos, que agora serão taxados em 10% durante o período de três meses. A medida, no entanto, não se estende à China, que, em retaliação aos EUA, continuará enfrentando encargos de 125%.

O anúncio foi feito por Trump na rede social Truth Social. Segundo ele, a decisão foi motivada pela “falta de respeito da China aos mercados mundiais”. Trump afirmou que, “esperançosamente”, Pequim entenderá que “os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis”.

Segundo Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, “o governo Trump tem como característica bater forte em suas políticas para, depois, negociar com os envolvidos. Hoje é mais um exemplo disso”. Ele acrescenta que o recuo deu força às moedas emergentes, especialmente ao real, que vinha entre as três divisas que mais se desvalorizavam com a política protecionista de Trump. “A pausa nas tarifas gera uma correção mais forte. Não reverte toda a perda, mas compensa parte dela.”

Antes do anúncio, o dólar vinha sendo negociado acima da linha dos R$ 6, impulsionado pela escalada da guerra comercial entre EUA e China. Em resposta às tarifas norte-americanas, Pequim impôs taxas de até 84% a produtos dos EUA e aplicou restrições a 18 empresas americanas, além de outras 60 já afetadas anteriormente.

Em nota, o Ministério das Finanças da China afirmou que a escalada tarifária dos EUA é “um erro em cima de um erro, que infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China e prejudica o sistema multilateral de comércio baseado em regras”. A declaração também foi enviada à OMC (Organização Mundial do Comércio), expressando preocupação com a postura “imprudente” de Washington.

Por sua vez, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou a reação chinesa como “lamentável”. Em entrevista à Fox Business Network, ele criticou a resistência de Pequim a negociar: “Eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional”. Bessent também alertou que países que se alinharem à China estarão “cavando a própria cova”, em referência principalmente às nações europeias.

A disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo intensificou-se na semana passada, quando Trump anunciou um “tarifaço” inicial de 34%, além de uma tarifa-base de 10% sobre todos os produtos importados da China e outras barreiras adicionais. Pequim respondeu com medidas de mesma magnitude, e Trump elevou ainda mais as tarifas, ameaçando subir para 50% caso a retaliação continuasse. Sem recuo chinês, as taxas entraram em vigor nesta madrugada.

A escalada da tensão tem impacto direto sobre o Brasil, especialmente devido à forte dependência de commodities, como petróleo e minério de ferro, cujos maiores compradores são os chineses. A expectativa de menor consumo por parte de Pequim afeta as projeções para a balança comercial brasileira.

Segundo Yi Shin Tang, professor de relações internacionais da USP especializado em comércio internacional, a China aposta que tem mais fôlego político e econômico que os EUA para sustentar uma guerra comercial prolongada. “Em disputas como essa, o ponto central é quem tem maior capacidade de aguentar. Muita gente assume que são os EUA, mas é preciso considerar o fator político: quem está mais preparado para suportar um período prolongado de recessão?”, diz.

Os mercados globais têm sido guiados pelo temor de recessão. De acordo com o banco JPMorgan, o risco de uma recessão global — e nos EUA — aumentou de 40% para 60% em apenas uma semana, impulsionado pela política tarifária agressiva do governo Trump.

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