
“Não é fácil ser sapatão no mundo”, diz Bruna Linzmeyer
- 03-07-2025 14:29
A atriz Bruna Linzmeyer, 32, tem usado sua visibilidade para transformar o cenário artístico e social brasileiro desde que assumiu publicamente sua sexualidade lésbica, em 2015. Em entrevista recente à CNN e como apresentadora do especial Falas de Orgulho, exibido na TV Globo, Bruna reforçou seu compromisso com a autenticidade, o afeto e a luta por representatividade LGBTQIA+.
“Seguir meus desejos exigiu inteligência e estratégia”
Ao decidir viver abertamente sua sexualidade, Bruna não apenas rompeu com padrões conservadores do meio artístico, como também abriu caminho para que outras mulheres se sentissem encorajadas a viver suas próprias verdades. “Quando comecei a namorar uma mulher e decidi não esconder isso, percebi que, na minha geração, não havia ninguém falando sobre isso na televisão e no cinema”, relembra.
Segundo ela, o cenário era hostil: figuras públicas que ousaram se assumir antes foram silenciadas, apagadas ou excluídas de oportunidades profissionais. Ainda assim, Bruna optou por seguir sua verdade, com consciência e coragem. “Em 2015, o mundo começou a fazer uma curva, e eu segui junto. Eu também fui agente dessa mudança.”
Um novo olhar para histórias dissidentes
No especial Falas de Orgulho, a atriz liderou uma produção que trouxe humor e sensibilidade ao retratar vivências LGBTQIA+. “Me deliciei lendo, dá para perceber que foi feito com muito carinho. Todas essas piadas, essa graça, a construção das personagens”, comenta. Para Bruna, rir das dores sem desrespeitá-las é uma forma poderosa de criar empatia e abrir espaços de diálogo.
Ela destaca que contar histórias queer, dissidentes e desviantes é, além de um gesto político, uma oportunidade criativa e econômica. “Essas histórias são riquíssimas, emocionantes, cheias de arte, de entretenimento e de coração. E, felizmente, temos tido cada vez mais possibilidades de contá-las”, afirma.
Representar sem planejar ser símbolo
Bruna diz que se surpreende quando é chamada de referência LGBT+, já que nunca teve essa intenção. Para ela, o mais importante foi manter-se fiel a si mesma — e isso, por si só, acabou inspirando outras pessoas. “Me sinto muito feliz por saber que algo que, no fundo, é uma relação minha comigo mesma, possa reverberar em outras pessoas”, diz.
Ainda assim, ela é direta sobre os desafios: “Não é fácil ser sapatão no mundo. A gente precisa criar estratégias e desenvolver inteligência para dialogar com uma sociedade que não foi feita para nós, que não reconhece nossa existência.”
Um compromisso com a verdade
Com uma fala serena, Bruna expressa o desejo de envelhecer em paz, tendo sustentado suas escolhas com coragem e lealdade a seus sentimentos. “Quero ter a certeza de que fui fiel a mim mesma. Acredito que isso é o que vai me permitir envelhecer com saúde e com beleza — e, para mim, beleza tem a ver com esse compromisso interno: com a verdade, com o desejo, com a alegria. Isso não tem preço.”